Brasil terá 84 GW de solar no próprio local de consumo até 2050

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O Brasil deve chegar a 83,6 GW de capacidade de geração solar em sistemas localizados no próprio local de consumo até o final de 2050, projeta a Bloomberg NEF. A companhia de pesquisa e inteligência de mercado também projeta que o país poderá acumular uma capacidade de armazenamento de energia de 22,74 GWh no mesmo período.

Os dados, detalhados à pedido da pv magazine, fazem parte do relatório “Realizing the potential of customer-sited solar” (“Realizando o potencial da energia solar localizada no cliente”, em tradução livre) realizado pela BNEF em parceria com a Schneider Electric. Ao todo, o estudo identificou que a capacidade de energia solar instalada no próprio local de consumo poderá chegar a 2,2 TW (2.200 GW) globalmente.

Já o armazenamento localizado no local de consumo deve acumular 1 TWh (1.047 GWh) no mesmo período, sendo que a grande maioria (89%) deste volume será instalado apenas após 2030, conforme os custos da bateria caem. Essa capacidade total será associada a 450 GW de geração solar localizada no cliente.

O caso de negócios para energia solar com armazenamento é inicialmente pior do que apenas para energia solar. Isto ocorre porque a adição de solar cria mais valor, pois gera energia em horários de pico e ajuda a compensar a conta de consumo de energia do cliente nesses vezes. O custo incremental de adicionar armazenamento, atualmente, supera seus benefícios.

Essas tecnologias estarão distribuídas em 167 milhões de residências e 23 milhões de empresas em todo o mundo, até 2050, desbloqueando grandes benefícios de descarbonização. Mas, segundo o relatório, o desenho tarifário e de políticas públicas será fundamental para viabilizá-los. China e EUA devem liderar as instalações de ambas as tecnologias. 

A geração no local de consumo é uma parte importante do movimento de descentralização dos sistemas elétricos. Essa tendência poderia contribuir como uma solução mais duradoura para o atual cenário brasileiro, em que a crise hídrica – ligada à crise climática – restringe a principal fonte de geração no país (60% da capacidade instalada), levando ao acionamento de térmicas a combustíveis fósseis e à importação de energia de países vizinhos. Cabe lembrar que as usinas solares centralizadas estão sendo impedidas de gerar em plena capacidade no Brasil por restrições no sistema interligado nacional, mesmo neste cenário. 


Evolução da geração solar no próprio local de consumo no Brasil (em MW). Elaboração própria com dados da Bloomberg NEF

Evolução do armazenamento no próprio local de consumo no Brasil (em MW). Elaboração própria com dados da Bloomberg NEF

Imagen: pv magazine

A projeção de crescimento da Bloomberg NEF, embora não seja restrita à micro e minigeração distribuída, converge com o cenário de referência traçado pela EPE para o crescimento da modalidade, que prevê uma capacidade acumulada de 26 GW até 2031 – nas modelagens da BNEF, seriam 24 GW até 2031.

As modelagens da BNEF consideram unicamente a fonte solar no próprio local de consumo, enquanto a EPE realizou o estudo incluindo outras fontes e as modalidades de autoconsumo remoto e geração compartilhada, em que o sistema é instalado em local diferente da unidade consumidora.

Payback no Brasil e no mundo

O relatório “Realizing the potential of customer-sited solar” (“Percebendo o potencial da energia solar localizada no cliente”, em tradução livre) conclui que a rápida queda dos custos da tecnologia solar já tornou mais econômico para residências e empresas gerarem sua própria energia em muitos mercados. Na Austrália, por exemplo, o período de retorno para as famílias que investem em energia solar tem sido favorável, em menos de 10 anos, desde 2013. Como resultado, a adoção já decolou, com mais de 2,5GW de energia solar residencial adicionados em 2020 apenas.

No Brasil, o payback estimado para consumidores residenciais varia de 3 anos a 5 anos, a depender do estado (com variações tarifárias e fiscais). Já para os consumidores comerciais, esse payback pode variar de 3 anos a 4,9 anos. Essas estimativas são da consultoria Greener, referente ao primeiro semestre de 2021.

Uma variável importante que pode ter impacto no Brasil é o sistema tarifário vigente. O relatório aponta que na França a taxa interna de retorno dos projetos (inversamente proporcional ao período de payback) pode aumentar até 1,5 pontos percentuais quando o consumidor está sob o regime tarifário variável por horário, em comparação com a tarifa “flat”, que não varia ao longo do dia. Cabe lembrar que estudos sobre novas modalidades tarifárias estão em discussão no Brasil e fazem parte da agenda regulatória da Aneel para 2021/2022. 

Despertando os mercados ao redor do mundo

A experiência em diversos mercados mostra que a adoção da energia solar ocorre principalmente quando há sentido econômico para as famílias e empresas que investem na tecnologia, geralmente na forma de altas taxas internas de retorno (TIR) ​​ou curtos períodos de payback. Em regiões onde a economia ainda não atingiu esses pontos de inflexão, os formuladores de políticas estão introduzindo incentivos direcionados para criar condições de mercado favoráveis ​​e antecipar a implantação.

Um exemplo é a França, onde os incentivos existentes significam que a energia solar residencial pode obter taxas internas de retorno de cerca de 18,5% (um payback de cinco anos), e as instalações comerciais alcançam uma TIR de 10,4% (um payback de nove anos). Isso tem estimulado o crescimento gradual do mercado, para cerca de 500 MW de instalações em 2020.

Uma consideração importante no estágio inicial de desenvolvimento do mercado é evitar um boom insustentável. Os projetos de políticas devem levar em conta o fato de que os custos da energia solar continuarão a cair com o tempo, e um suporte moderado para refletir essas mudanças na dinâmica.

A vantagem econômica para adicionar energia solar durante a construção de novos edifícios é particularmente forte. Isso ocorre porque os chamados ‘custos indiretos’, que incluem marketing e vendas, bem como custos de mão de obra e construção, podem ser reduzidos, enquanto os benefícios permanecem os mesmos. Na Califórnia, o argumento econômico para adicionar energia solar residencial em casas existentes já é interessante, com uma TIR de 20%, mas o novo relatório estima que esse número seja o dobro, com TIR de 40%, quando a energia solar é adicionada durante a construção. Na França, a TIR para energia solar residencial pode ser aumentada para 28% quando adicionada durante uma nova construção.