Horizonte busca parceiros investidores para 23 MW de GD em Minas Gerais

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A Horizonte Soluções Inteligentes busca parceiros investidores para os projetos de geração solar distribuída no seu pipeline, que somam 23 MW na região de Belo Horizonte, Minas Gerais, estado que concentra a maior parte da capacidade fotovoltaica instalada no país. Desse volume, 7 MW estão já com o parecer de acesso assinado, condição para que os projetos garantam as atuais condições de compensação de energia, que permite o consumidor descontar os créditos gerados pelo sistema sobre todos os componentes da tarifa. Outros 16 MW estão em processo de aprovação do parecer de acesso pela Cemig. 

Para os projetos com parecer de acesso assinados após janeiro de 2023, os créditos não poderão ser descontados sobre as componentes tarifárias que remuneram o sistema de distribuição. Mas, com o documento assinado, os projetos podem entrar em operação após essa data e ainda assim desfrutar das atuais regras, reforça a diretora geral da empresa, Sheyla Santiago.  

Esse pipeline, que deve ser ampliado para mais 50 MW até o final do ano – o objetivo é que tudo tenha parecer de acesso até lá -, poderia, portanto, ser construído até 2026.  

Com parecer de acesso, projetos podem entrar após janeiro de 2023 

“Nosso objetivo é aprovar 73 MW com parecer de acesso até o final do ano, para manter na regra. Mas esses pareceres não rodam de imediato, vai à medida que a Cemig estabelece o prazo de obra”, comenta Sheyla.  

Seriam necessários R$ 500 milhões em investimentos para viabilizar os projetos, que poderiam ser entregues nos próximos anos, a partir do prazo definido pela distribuidora. Há projetos com parecer de acesso com previsão de entrada em operação em 2024, por exemplo.  

“Depois que a obra da Cemig é entregue, a gente tem 12 meses para entregar, no caso da minigeração. Para microgeração, são quatro meses. A gente inicia a construção seis meses antes desse prazo”, detalha Sheyla. 

Os projetos estão localizados próximos à rede e ao centro de consumo da região, o que pode ser uma vantagem diante das políticas que têm se desenhado para valorizar projetos com essas características. 

Foco: do consumidor para o investidor 

A Horizonte entregou, nos últimos três anos, 3 MW, distribuídos em cerca de 50 projetos. Até então, a abordagem da companhia integradora vinha sendo comercializar os projetos diretamente para os consumidores, sempre mirando comércios e pequenas indústrias. 

“Fizemos a opção de mirar esse nicho porque já tínhamos experiência, em projetos elétricos, nesse segmento industrial. Esse perfil de consumidor, porém, tem certa resistência ao investimento de médio prazo, uma visão mais imediatista. Fomos fazendo esse trabalho de convencimento, mostrando o retorno”, conta Sheyla.  

No último ano, a visão das sócias à frente da empresa – incluindo a diretora de Projetos Bárbara Dantas -, mudou e a Horizonte passou a buscar viabilizar os projetos não apenas com os consumidores que têm a demanda energética, mas também com investidores que querem rentabilizar em cima dos ganhos econômicos da geração distribuída. São empresas que por exemplo têm uma base de consumidores interessados em alugar cotas nos sistemas de GD.  

A diretora geral cita empresas como Cemig SIM, Órigo Energia, Finehra, Metha Energia, Flora Energia e Brasol, que atuam nesse modelo e são potenciais compradores ou investidores em projetos de integradores para atender sua base de clientes.  

“Podemos até direcionar os consumidores para essas empresas, com foco mais financeiro. (Os consumidores) têm que ter um bom histórico de crédito no mercado, já que essas empresas acabam financiando. Mas elas não constroem a usina, a gente entra aí, construindo os projetos nos lugares que eles precisam para atender os consumidores que os procuram”, descreve a executiva. 

Esse modelo soluciona o problema de falta de disponibilidade para fazer o investimento próprio dos consumidores de energia. E, da parte dos integradores, pode ser uma forma de concentrar os esforços no desenvolvimento e construção dos projetos, deixando a parte comercial e de prospecção de clientes para a empresa que financia.  

“Uma empresa grande, que tem alto uso de energia, pode julgar que R$ 50 milhões seriam mais bem investidos no próprio negócio. Pode ser mais interessante para ela do que uma economia gerada ao longo de anos. Mas, ao mesmo tempo, é interessante ter o desconto, ter o marketing ambiental para os próprios produtos ou serviços e aí entram essas empresas que investem pelo consumidor”, acrescenta Sheyla.  

Desde o início desse ano, a empresa vem aprimorando seu modelo de contrato para oferecer uma segurança maior aos possíveis investidores, revisando por exemplo o contrato de cotistas das sociedades de propósito específico (SPEs) que controlam os projetos.  

Cada empresa investidora tem diferentes premissas para avaliar os projetos, a depender de suas necessidades e modelo de negócios. De acordo com Sheyla, algumas avaliam por exemplo a disponibilidade de terreno em áreas contíguas para futuras expansões. Cada uma tem seu modelo de simulação de geração e análise técnica. “A empresa que quer ser dona do ativo vai ter esse olhar de querer fazer uma expansão, aquela que vai ser comercializadora apenas, não”, comenta.

Sheyla Santiago, diretora geral da Horizonte Soluções Inteligentes em Energia

Imagen: Horizonte Energia

Competição e qualidade 

Um dos pontos de atenção para a expansão futura do mercado, avalia a diretora da Horizonte, é justamente a qualidade dos projetos, especialmente para os de maior porte que atendem consumidores comerciais ou pequenas indústrias. “A gente vê muita gente com projeto de 1 MW que não sabe nem por onde começar a fazer o orçamento. Numa residência, um erro no orçamento é uma perda R$ 1 mil reais. Mas quando se faz usina de mais de 1 MW, começa a perder na casa de R$ 200 mil”, comenta.  

A Horizonte tem atualmente um acordo com a Solar Edge, incluindo em seus projetos os otimizadores de potência da fabricante de inversores. A tecnologia pode até encarecer o projeto, mas também garante a qualidade e a entrega da energia, diz Sheyla. “Fizemos um orçamento recentemente parta um cliente, projeto de 1 MW variando de R$ 6,5 milhões a R$ 7 milhões, dependendo da opção com otimizador ou sem. E o cliente apareceu com um orçamento de R$ 3,5 milhões, que não viabiliza. É muito fora da realidade. Ou o integrador está dando um golpe ou não sabe o que está fazendo”, comenta.  

É possível negociar o projeto também com a compra por etapas, mas o risco é maior alerta Sheyla. “Quando fecho um orçamento, já sinalizo para o fornecedor para segurar o preço do kit fotovoltaico”, comenta. Até um mês atrás o projeto de 1 MW custava R$ 6,7 milhões agora tá em R$ 7 milhões. 

O temor é que negócios fechados com pouca precisão no orçamento ou com baixa qualidade de tecnologia levem a frustrações dos consumidores com todo o mercado. Esse problema esbarra também na falta de profissionais qualificados para a instalação dos projetos, o que já está sendo sentido atualmente pelo setor. 

Operação 

Além do desenvolvimento dos projetos, a Horizonte mira também os contratos de operação e manutenção das usinas, que estão localizadas em áreas próximas, o que facilita a mobilização de equipe própria da empresa. 

“A gente buscou estar bem próximo, porque nosso interesse é manter o opex dessas usinas. A comercializadora (empresa que aluga os sistemas para os consumidores e frequentemente investe nas usinas) exige um percentual de disponibilidade. Então faz sentido para a gente assumir o opex, e ainda traz uma receita constante para a empresa. Nosso projeto mais distante está a 100 km de BH, concentramos tudo na região metropolitana”, detalha a diretora.  

Essa estratégia também é uma preparação para as futuras mudanças na forma como os projetos são “taxados” – ou como a energia gerada é compensada sobre a tarifa de energia. “Existe a expectativa de a GD ser vista como benefício para a rede, depende de como vai ser a relação da concessionária com as usinas, mesmo após o período previsto na Lei 14.300. Quem está mais perto da carga tem uma taxação melhor”, aposta Sheyla.  

Retorno do investimento 

Outro entrave atual para a expansão do mercado é a concorrência com outras opções de investimento que estão atualmente mais rentáveis, comenta Sheyla. Ela calcula que atualmente o retorno de investimento em um projeto de 1 MW na área de concessão da Cemig esteja em torno de 1,5% ao mês. Mas esse é um cenário que não deve se manter, avalia.  

“Existem coisas mais rentáveis no momento atual, mas isso não se segura, não é garantido em quanto anos. Tem o empréstimo para as distribuidoras, tem o leilão das térmicas, movimentos que podem impactar a inflação energética, estamos vendo para o próximo ano um cenário de crescimento de 10% da tarifa”, comenta.  Por outro lado, pondera, neste ano houve uma pressão de redução das tarifas com a retirada do ICMS sobre a energia, embora no líquido os consumidores da classe A tenham sentido um aumento. 

Como tanto o custo de investimento na geração quanto o custo da tarifa são variáveis, a avaliação é que é preciso se adaptar aos diferentes movimentos do mercado e sempre se atualizar.  

A própria Horizonte agora quer focar em projetos de maior porte, com 1 MW em média. “E aí passamos de um investimento de R$ 500 mil para R$ 7 milhões, o investidor quer uma segurança maior, as exigências mudam e a gente precisa se adequar”, diz Sheyla.  

A perspectiva de ampliação do mercado livre, que deve incluir consumidores de menor porte nos próximos anos, por exemplo, pode ser também uma oportunidade para os projetos menores. “O mercado muda. Eu vendia para o consumidor que tinha demanda energética. Atualmente está quase meio a meio entre esse consumidor e o investidor. E essas comercializadoras não vão deixar de ofertar, vão fazer ajustes para manter o negócio atrativo”, aponta.