Ceará atrai projetos bilionários de hidrogênio verde em 2021

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Em 2021 o Ceará assinou quatro memorandos de entendimento para desenvolver projetos de hidrogênio verde focados em exportação que podem demandar US$ 15 bilhões em investimentos (conheça mais sobre os projetos abaixo). A existência de uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE), o porto de Pecém e a disponibilidade de energia renovável são alguns dos atrativos do estado para esses projetos, explica a secretária executiva da Indústria na Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Emprego do Ceará, Roseane Medeiros. 

Para incentivar as empresas, em fevereiro o estado lançou o Hub de Hidrogênio Verde, focado no desenvolvimento da cadeia produtiva do combustível renovável no Porto de Pecém.  

Pecém está localizado em um dos pontos do território brasileiro mais próximos à Europa e aos EUA, destaca a secretária. “A Europa precisa muito mais de importar esse combustível, mais até que os EUA, até por limitação de espaço territorial para a produção. Além disso, já estabeleceram compromissos de descarbonização”, comenta Roseane.

O estado conta com 219 MW de energia solar em usinas centralizadas e 231 MW em geração distribuída, além de 2,3 GW de energia eólica. Já mapeou em seu território potenciais para desenvolver 643 GW de energia solar, 94 GW energia eólica onshore e 117 GW offshore. Além disso, acaba de anunciar uma nova planta de montagem de sistemas fotovoltaicos que será instalada no Pecém

Recursos hídricos

Os recursos hídricos disponíveis no estado para o processo de eletrólise – a separação das moléculas de oxigênio e hidrogênio da água, feita com eletricidade renovável, no caso do hidrogênio verde – estão sendo mapeados. A proximidade do mar pode ser uma vantagem, embora seja necessária a dessalinização da água. Outra possibilidade vislumbrada seria trazer água de reuso – proveniente do tratamento de esgoto – da capital Fortaleza, a 60 km do Porto de Pecém. Neste caso, o governo estadual realizaria o investimento na infraestrutura de transporte, diz Roseane. 

Porto e ZPE

“O Porto está capitalizado e pode fazer investimentos necessários (para receber esses projetos). Tem uma operação flexível e uma governança própria”, comenta a secretária. Em 2018, o porto abriu seu capital e se tornou um empreendimento de economia mista, ao vender 30% das ações do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) S.A. para a administradora do Porto de Rotterdam, por R$ 323 milhões. Os 70% restantes da ações do CIPP continuam sob a posse do estado. 

As empresas instaladas na ZPE – que inclui o complexo de Pecém – têm suspensão de impostos e contribuições (Imposto de Importação, IPI, PIS, COFINS, PIS-Importação e COFINS-Importação e Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante) nas aquisições no mercado interno e nas importações, entre outros benefícios

O estado, diz a secretária, tem se empenhado para preparar as regras específicas de licenciamento ambiental para esse tipo de projeto. “Estamos nos organizando para ter o desenvolvimento dessa política pública, para dar segurança jurídica para essas empresas”, diz Roseane.

Mercados potenciais

Ela lembra que os projetos são preliminares e as empresas estão contratando seus estudos de viabilidade para definir seus cronogramas e mercados potenciais. Em um primeiro momento, estão mirando a exportação para a Europa, que estabeleceu em 2020 metas específicas para o combustível.

Mas é possível desenvolver o mercado interno também. A Companhia Siderúgica do Pecém, por exemplo, pode vir a ser um consumidor ou parceiro das plantas de produção. “Há também três cimenteiras, que provavelmente usarão, o maior grupo de massas e biscoitos do Brasil, que usa hidrogênio não verde em seus processos industriais. Também estamos avançando com a mina de urânio, em Santa Quitéria, que está associada a produção de fertilizantes e poderia ser um parceiro”, enumera Roseane. A secretária avalia que a tendência ESG para valorização de ações pode incentivar a busca de empresas brasileiras por esse tipo de fonte, mas essa visão está mais consolidada, com metas e regras de mercado, em outros países. 

Sinergias do hub

O objetivo do HUB é fortalecer toda a cadeia do hidrogênio verde, indo além da produção. Uma oportunidade, por exemplo, é o armazenamento do gás, que pode ser feito por terceiros. “Ou ainda por um pool conjunto, para projetos menores – os maiores provavelmente não teriam interesse”, antevê a secretária. Roseane adianta que há outros memorandos em negociação, citando interesse no desenvolvimento do hidrogênio verde para mobilidade.

Modelo do HUB de hidrogênio verde no Porto de Pecém, incluindo geração de energia renovável

Imagem: CIPP

Os projetos

Enegix Energy

Em 19 de fevereiro, quando o estado anunciou o Hub, a empresa australiana Enegix Energy assinou o primeiro memorando de entendimento para instalar uma usina de hidrogênio verde no Porto do Pecém com investimento de U$ 5,4 bilhões. O projeto prevê a produção de mais de 600 mil toneladas de hidrogênio verde por ano. A planta será abastecida por usinas eólicas e solares que somam 3,4GW de potência.

A empresa Black & Veatch fornecerá o estudo de viabilidade para o projeto. O escopo dos trabalhos inclui desenho técnico, seleção de fornecedores e tecnologia, planejamento de execução, cronograma do projeto, avaliação de riscos, estratégia de logística e estratégia de compras.

Rotas de escoamento do hidrogênio verde estudadas pela Enegix, a partir do Porto de Pecém

Imagem: Enegix

White Martins

Em abril, foi a vez da White Martins assinar um memorando de entendimento, diretamente com o CIPP. A companhia já opera no Pecém uma planta com capacidade superior a duas mil toneladas de gases por dia. O acordo prevê estudos sobre as condições de produção do hidrogênio verde no complexo. Não foram divulgadas até o momento estimativas de investimento ou capacidade de produção. 

A empresa faz parte do grupo Linde, produtor e fornecedor global de hidrogênio comum que tem investido na transição para o hidrogênio verde. O grupo já tem expertise na produção do combustível, não só a partir de eletricidade renovável, como também com uso de biometano no processo de eletrólise. Além da produção e distribuição do hidrogênio verde, o grupo atua também na liquefação e no armazenamento do combustível. Estabeleceu a meta de diminuir em 35% as emissões de gases do efeito estufa em suas operações até 2028, em comparação com 2018.

Qair 

No dia 6 de julho, a multinacional de origem francesa Qair Brasil assinou com o governo do Ceará um MoU para o desenvolvimento de planta de produção de hidrogênio verde com energia elétrica gerada através do Complexo Eólico Marítimo Dragão do Mar (1.216 GW). O investimento total previsto é de US$ 6,95 bilhões, sendo US$ 3,95 bilhões só para a planta de produção de hidrogênio. A capacidade prevista é de aproximadamente 296 mil ton/ano, com início de operações a partir de 2023.

Fortescue

Um dia depois, em 7 de julho, foi assinado o mais recente MoU do HUB de hidrogênio verde do Ceará. Desta vez pela também australiana Fortescue, que planeja produzir o gás no Pecém a partir de 2025, com investimentos de US$ 6 bilhões. A meta é entregar 15 milhões de toneladas de H2V até 2030. O memorando assinado com o governo do estado prevê parcerias com as universidades locais para realizar pesquisas, a fim de desenvolver tecnologias relacionadas ao hidrogênio, treinar e contratar pessoal local, bem como reter serviços e comprar produtos localmente, sempre que possível.

A Fortescue é produtora de minério de ferro. Como grande consumidor de energia, o grupo está comprometido com a meta de zerar suas emissões de carbono até 2030.