Com mais empresas no mercado, margem de integradores está pressionada

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Em meio ao segundo ano de pandemia o número de empresas ativas no mercado de integração de usinas solares distribuídas continua aumentando. A empresa de pesquisa Greener estima que existam 16.750 integradores fotovoltaicos ativos no mercado brasileiro atualmente, de cerca de 14 mil até o final do ano passado.

Apesar do alto número de empresas, o diretor da empresa de pesquisa, Marcio Takata, não acredita em um movimento de consolidação neste momento. A expectativa, na realidade, é que novas empresas continuem entrando no mercado, podendo chegar a 18 mil empresas ativas até o final do ano. “É um mercado que terá atuações regionais das empresas”, aposta o diretor. 

A disputa é por um mercado que também cresceu no primeiro semestre de 2021. Em junho de 2021, a geração distribuída solar no Brasil ultrapassou a marca de 6 GW de potência instalada, chegando a 6.142 MW. No primeiro semestre deste ano foram adicionados 1.450 MW, contra 1.296 MW em igual período de 2020.

Para conseguir se manter nesse mercado competitivo, as empresas integradoras estão achatando suas margens para atenuar o aumento dos custos com os equipamentos fotovoltaicos, avalia Takata.

“Podemos enxergar de duas formas: há o efeito do ganho de escala das empresas integradoras, que estão vendendo mais, que estão aumentando o aprendizado e eficiência na venda e engenharia. E há a margem também, que muito provavelmente veio reduzindo, em meio a um mercado competitivo”, comenta. 

Foram ouvidas pela pesquisa 1.801 empresas integradoras entre 10 de junho e 12 de julho de 2021.

Dos entrevistados, 79% se dizem otimistas em relação aos negócios, apesar de toda a pressão e competitividade. A maior parte deles, 36%, espera comercializar de 100 kWp a 500 kWp. Outros 23% acreditam que venderão entre 50 kWp e 100 kWp. E 10% dos integradores de sistemas esperam atingir volume de venda acima de 1 MWp nos próximos meses.

Uma justificativa para essas projeções é que a busca por sistemas continua alta: a média de orçamentos no primeiro semestre foi de 42 por mês. Já a média de vendas mensais ficou em 4,2 por empresa, sendo que 49% das empresas venderam até 10 sistemas. A taxa média de conversão de vendas foi de 10,1%, um leve incremento em relação ao semestre anterior que foi de 9,8%. Em 2016, a taxa era de 4%. 

Também aumentou a proporção de empresas com faturamento mais elevado: 39% das empresas venderam mais de 100 kWp no primeiro semestre de 2021, comparado a 32% no mesmo período de 2020. Já o percentual de empresas que não efetuaram vendas no período caiu de 25% para 9% entre 2020 e 2021, indicando um mercado com mais oportunidades para o setor. 

Preço final estável

Enquanto isso, os preços para o cliente final, em média, ficaram estáveis, embora ainda em um patamar elevado, alinhados com o semestre anterior. Sistemas comerciais de maior porte (acima de 300 kWp) apresentaram elevação dos preços, com variações mais significativas para potências mais altas. Isto porque a participação dos serviços e mão de obra é mais significativa para projetos de menor porte, enquanto para usinas de maior escala o custo dos módulos acaba pesando mais no preço final.

“Houve uma elevação do câmbio, nem tanto dos equipamentos. Os custos de equipamentos para o mercado interno vem subindo, mas de outro lado um mercado competitivo, e as margens vão reduzindo. Temos um mercado de integração bastante pressionado”, diz Takata.

Além da redução de custos principalmente na parcela de serviços, o que também contribuiu para segurar o aumento dos preços foi a entrada em vigor dos ex-tarifários que incluem equipamentos fotovoltaicos como módulos e inversores (Resoluções 69, 70, 171 e 172).  Os ex-tarifários são instrumentos do Ministério da Economia para redução temporária da alíquota do imposto de importação de bens de capital e de informática e telecomunicação, quando não houver produção nacional equivalente. 

No primeiro semestre, os preços para os consumidores finais variaram de R$ 6,17/Wp (mais alto) para sistemas com 2 kWp instalados em telhados a R$ 3,95/Wp para sistemas com 5 MWp instalados em solo. Sistemas com dimensão e configuração iguais aos mencionados custavam, respectivamente, R$ 6,04/kWp e R$ 3,35/kWp em junho de 2019 (quando o dólar estava em US$ 3,80). 

O valor médio mais baixo para o consumidor final no primeiro semestre de 2021 foi dos sistemas de 3 MWp em telhados, R$ 3,47/Wp. 

Considerando os últimos anos, entretanto, os preços apresentam uma queda considerável. Em junho de 2016, um sistema de 4 kWp custava ao consumidor final R$ 35 mil. Atualmente, em junho de 2021, esse sistema custa R$ 19,5 mil, representando uma queda de 44% em cinco anos.

Já o sistema de 50 kWp custa atualmente R$194,5 mil, representando também uma queda de 44% entre junho de 2016 e 2021. Os sistemas de porte industrial, com 1 MWp sairiam por R$3,640 milhões em junho de 2021, representando uma queda de 38% em 5 anos.

6 GW

Até junho, o mercado brasileiro de GD acumulava mais de 6 GW instalados. Essa capacidade está distribuída em 532 mil sistemas, que geram créditos de energia para 689 mil unidades consumidoras. A proporção de UCs recebedoras de crédito através de geração remota vem se ampliando, passando de 1,16 por usina em 2017 para 1,30 em 2021.

A modalidade de autoconsumo remoto, em que o sistema de GD instalado em uma unidade consumidora gera crédito para outras unidades da mesma titularidade, aumentou sua participação no total de instalações ao longo dos anos. Representou 14% em 2021, comparado a 11% das unidades em 2017. 

Ainda assim, a geração na própria unidade consumidora permanece dominante entre as modalidades de GD. Saiu de 89% do total de 127.563 instalações até 2017 para 86% do total de 532.073 instalações até junho de 2021.

Takata acrescenta que tem percebido um aumento no número de projetos que estão sendo estruturados para atender cooperativas e consórcios na modalidade de geração compartilhada, em que o sistema de GD gera créditos para diferentes CPFs e CNPJs.

“Novos modelos têm sido estruturados para atender esse movimento de consumo. Mas é mais recente, a gente tem visto mais este ano, que começam a surgir. Eu vejo que esse número deverá aumentar”, diz.

Apesar da diminuição da participação do consumidor comercial nesse semestre – de 37% em 2020 para 29% no primeiro semestre -, o segmento continua sendo bastante relevante para GD.

“Vemos que há a possibilidade de retomar a participação e crescimento do setor porque tem alta atratividade para a instalação de geração distribuída, bastante importante para o segmento de varejo, por exemplo. E a grande parte dos consumidores que entrevistamos, cerca de 650, todos comerciais, está bastante satisfeita, são 92%”, comenta Takata.

Com a pandemia levando muitas pessoas a ficar em casa e limitando a atuação das empresas,  o crescimento da participação do segmento residencial se acentuou.  Consumidores residenciais corresponderam pela primeira vez a 50% do volume adicionado de GD  no primeiro semestre. Em 2020, os consumidores residenciais representaram apenas 39% da expansão.