Apostando exclusivamente no modelo de geração compartilhada, a Órigo Energia deve chegar ao final do ano com 100 MW de capacidade instalada em usinas de até 5 MW. Aproximadamente 90 MW estarão localizados em Minas Gerais, mas a companhia também opera micro e miniusinas em Pernambuco e em São Paulo. Atualmente, já são 70 MW em operação, que geram créditos para cerca de 20 mil consumidores residenciais e comerciais. Os demais 30 MW devem chegar até o final do ano, quando a empresa prevê atender 30 mil clientes.
Em conversa com a pv magazine, o CEO da companhia, Surya Mendonça, foi reticente sobre os planos futuros. “Não paramos, estamos desenvolvendo atualmente projetos para operar nos próximos anos. Mas sem o marco legal da geração distribuída, não é possível falar em planos de investimento ou metas de expansão”, diz o executivo.
O que já está previsto para 2022, ressalva, são os 30 MW (37 MWp) em parceria com a norueguesa Norsk e com a também brasileira GD Solar. Nesse caso, a Norsk financiará o projeto, com investimentos previstos de R$ 150 milhões. O desenvolvimento da operação, a modelagem do negócio e a construção dos projetos estão a cargo da GDSolar enquanto a Órigo entra com a gestão da operação e dos créditos de energia para seus consórcios e cooperativas.
Marco regulatório
O cuidado para falar sobre os planos futuros é justificado pela indefinição quanto ao marco regulatório da geração distribuída. Mas o texto do Projeto de Lei 5.829 de 2019, aprovado pela Câmara em agosto e aguardando apreciação pelo Senado, pode ser interessante para o modelo adotado pela Órigo – que associa diversos consumidores, residenciais ou comerciais, na geração compartilhada de energia.
A modalidade pouco decolou desde que foi instituída pela resolução 687 da Aneel em 2015. De acordo com dados da agência reguladora consultados no dia 08/09, há apenas 1.029 usinas de geração compartilhada conectadas à rede (do total de 582 mil sistemas de geração distribuída no país), que geram créditos para 4.136 unidades consumidoras e somam 66 MW de capacidade, sendo 44 MW de solar.
Isso não impediu a Órigo de apostar no nicho da geração compartilhada para crescer. “Acredito muito em foco. Nosso sucesso até hoje vem de ter um projeto bem estruturado e um modelo adequado para os consumidores. Estou há cinco anos na Órigo e quando cheguei o foco era rooftop e grandes consumidores. Demoramos um modelo para fazer a geração compartilhada, mas deu certo”, diz Mendonça.
Pelo modelo adotado pela Origo, os clientes não precisam fazer investimentos nos sistemas de geração. Eles aderem a uma cooperativa, no caso dos residenciais, ou consórcio, no caso de consumidores comerciais, com a garantia de 15% de economia sobre as tarifas de energia reguladas cobradas pelas distribuidoras.
Com o novo marco regulatório, essa associação de consumidores deve ser simplificada, o que pode impulsionar a expansão da modalidade de geração compartilhada. Até então, as únicas estruturas jurídicas permitidas para dividir os créditos eram as cooperativas e os consórcios. Mas o PL prevê, além desses, o “condomínio civil voluntário ou edilício ou qualquer outra forma de associação civil, instituída para esse fim”, ampliando as possibilidades.
Para Mendonça, o Marco Regulatório, se aprovado no Senado como está, poderá dar segurança jurídica para as atividades da empresa. “Somos uma empresa de serviço contínuo, estamos desenvolvendo projetos. Mas não dá para fazer um planejamento de longo prazo sem conhecer as regras do jogo”, comenta.
Módulos bifaciais e trackers
Como a Órigo constrói suas usinas no chão e não em telhados, como é comum no caso da geração distribuída instalada na própria unidade consumidora, a companhia tem optado por tecnologias mais comuns em projetos centralizados, como os módulos bifaciais e os trackers. “Tudo depende do preço, mas a tendência é que os próximos projetos também tenham os módulos bifaciais. Sai mais caro, mas compensa na produção de energia e eficiência do projeto”, avalia.
A companhia não possui contratos de exclusividade com fornecedores, tendo diversos fabricantes em seu portfólio.
Financiamento com títulos verdes
A Órigo, que tem como acionistas um fundo de energia limpa do TPG ART, a japonesa Mitsui e o fundo de impacto MOV, coloca equity próprio nos projetos, mas também já fez project finance. Neste ano, levantou R$ 248 milhões através de duas operações com títulos verdes para financiar 12 fazendas solares que somam 30 MW em Minas Gerais. Além disso, fechou um financiamento mezanino de R$ 106 milhões com a Blue like an Orange Sustainable Capital Fund para financiar sua expansão.
Em fevereiro, a empresa levantou R$ 64 milhões para a construção de quatro fazendas solares em Minas Gerais através da emissão de Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) verdes, que receberam o nome de Green CRI Órigo. Os títulos são lastreados em recebíveis imobiliários e são garantidos por dez anos pelo desconto de recebíveis e aluguéis das fazendas solares que serão construídas. O CRI foi certificado como climate bond pela Climate Bonds Initiative (CBI).
Um mês depois, em março, a companhia captou mais R$ 184 milhões por meio da venda de recebíveis de longo prazo para o Green FIDC Solar GD Socioambiental. Ambas as emissões foram estruturadas e geridas pela Albion Capital.
A Órigo começou a emitir títulos de dívidas para financiar sua expansão em março de 2020, quando pela primeira vez aprovou a emissão de debêntures, no valor de R$ 50 milhões.
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