GDSolar prevê investimentos bilionários em geração compartilhada e autoprodução

Share

A GDSolar se prepara para entrar em uma nova fase estratégica, diversificando seu modelo de negócios nos próximos anos. Até meados de 2022 a empresa encerrará um primeiro ciclo de investimentos, de R$ 1 bilhão, para colocar em operação o pipeline atual de 248 MWp de capacidade em geração distribuída. Para o futuro, vê a oportunidade de desenvolver mais 500 MW de geração distribuída nos próximos anos, que demandariam outros R$ 2 bilhões em investimentos. A maior parte desse potencial, ou cerca de 80%, seria no modelo de geração compartilhada. Além disso, a empresa estuda a aquisição de um novo potencial de 615 MWp de projetos de geração centralizada, com mais R$ 1,8 bilhão em investimentos, para venda da energia em parceria com uma comercializadora. 

Até o momento, a companhia cresceu apostando no atendimento de redes varejistas através da geração distribuída por autoconsumo remoto, modalidade em que o sistema fotovoltaico gera créditos que serão compensados na tarifa de energia de outras unidades consumidoras sob o mesmo CNPJ. Com a experiência do CEO da GDSolar, Alexandre Gomes, no segmento de telecomunicações, os primeiros grandes contratos da GDSolar foram justamente com a operadora Claro, grande consumidor com carga distribuída em diversas unidades. Entre os clientes da empresa também estão outras importantes redes varejistas, como Magazine Luiza, Ambev e Coca-Cola.

“Estamos vendo que a grande parte dos consumidores com esse perfil que poder ser atendido por autoconsumo remoto já esta atendida. Existe uma ou outra oportunidade remanescente, mais pontual”, diz Gomes. Dessa constatação surgiu a ideia de mirar em novos modelos de negócios.

De olho nas franquias

Usina da GD Solar em Buritizeiro (MG)

Imagen: GD Solar

Parte desses projetos em implantação pela GDSolar já refletem a nova estratégia da  companhia, caso do acordo com o grupo Ultra, controlador da rede de postos de combustíveis Ipiranga. A ideia é oferecer a geração solar distribuída compartilhada para os postos que usam a bandeira, mesmo que tenham diferentes CNPJs. 

“Redes de franquias podem oferecer mais um benefício para os seus franqueados e reúnem diversas unidades consumidoras. O negócio com a rede Ipiranga é um exemplo porque os clientes chegam através de uma bandeira forte”, comenta Gomes. Ele revela que atualmente há negociações com uma rede de fast food e aplicativo de entrega, que poderia beneficiar restaurantes interessados em se associar à uma usina de geração compartilhada.

Esse modelo de negócios também conta com um avanço importante dado pelo PL 5.829/2019, que simplifica o modelo de associação de diferentes consumidores na geração compartilhada. Se antes os clientes comerciais só poderiam se agrupar através de consórcios e os residenciais, através de cooperativas, agora serão permitidos novos modelos como associações ou condomínios civis.  

Isso deve simplificar os processos de adesão e até mesmo de saída dos consumidores. “Estamos vendo algo muito parecido com o que vivenciei na Telecom 15 anos atrás, em que ganha o plano que melhor atenda a necessidade do consumidores. É como o built to suit de um prédio (em que o locador constrói ou reforma um imóvel de sua titularidade de acordo com as necessidades do locatário)”, compara Gomes.  

Até o momento, os contratos da empresa com os consumidores têm sido assinados, como é de praxe no mercado, com prazos de 15 anos em média – considerando que as usinas têm uma vida útil de 30 anos, aproximadamente. Esses prazos mais longos são a contrapartida ao investimento realizado pela GDSolar, uma vantagem para o consumidor que não precisa fazer um aporte para usufruir dos créditos.

Na geração compartilhada, é uma oferta mais de varejo. Quanto maior é o tempo de fidelização, maior é o desconto, diz Gomes. Ele admite que o risco nesse modelo é mais pulverizado que no caso do autoconsumo remoto, que envolve apenas um grande consumidor com diversas unidades. Mas não temos receio, é para onde o mercado está caminhando, avalia. O CEO da GDSolar comenta que mesmo com um risco mais pulverizado há oportunidade de financiamento, inclusive com a possibilidade de emissão de debêntures de infraestrutura prevista também no PL 5.829/2019.

Com essa nova visão, o plano é desenvolver um novo pipeline de 500 MWp de geração distribuída, dos quais 80% seriam para a geração compartilhada e os 20% restantes para a demanda remanescente de autoconsumo remoto.

Consumidor varejista e autoprodução

Outra oportunidade vislumbrada pela GDSolar é a expansão do mercado livre para consumidores comerciais ou pequenas indústrias, o chamado lower middle market. Há um gap entre geração distribuída e mercado livre, uma oportunidade para atender esses consumidores A4 (média tensão), comenta Gomes. Para viabilizar o atendimento desses consumidores, a GDSolar está se habilitando para atuar como comercializadora varejista, agente setorial que pode agrupar consumidores e representá-los no mercado livre, viabilizando sua migração e saída da tarifa regulada.

Além do desconto inicial na tarifa, a previsibilidade de preço é um dos nossos principais atributos comerciais. Essas empresas terão uma energia com preço corrigido pelo IPCA, sem estar sujeitas aos reajustes e bandeiras tarifárias, diz Gomes.

Para atender essa demanda, que também inclui projetos de autoprodução, a companhia está estudando a aquisição de um novo potencial de geração solar de aproximadamente 600 MWp localizados na região Sudeste. Estamos estudando alguns potenciais já desenvolvidos. O que está  mais avançado é esse de 615 MWp, já com parecer de acesso para entrar em operação em 2024, conta Gomes. Esse potencial voltado para o mercado livre seria viabilizado em lotes menores, de aproximadamente 50 MW cada, negociados em parceria com uma comercializadora que está em negociação com a GDSolar.

Desafios regulatórios

Uma boa parte da estratégia de crescimento traçada pela GDSolar está apoiada sobre o texto do PL 5.829/2019 que, embora tenha passado com grande apoio na Câmara, ainda não foi apreciado pelo Senado.

A geração distribuída solar, localizada próxima dos centros de consumo, tem uma relação direta com a solução para a crise hídrica e energética que estamos passando. Enquanto não tivermos armazenamento, por causa do preço, a nossa bateria será a água. E as usinas solares distribuídas, a fonte que tem a implantação mais rápida, podem contribuir para aliviar o sistema como um todo. O primeiro grande passo (para viabilizar o crescimento da geração distribuída) é sancionar a lei, diz Gomes. 

Olhando para o futuro, o CEO da GDSolar diz que a única preocupação regulatória que tem para depois da aprovação da lei está relacionada à valoração dos atributos da geração distribuída, trabalho que será conduzido pela Aneel, conforme determina o texto em discussão no Senado. Esse é o grande trabalho que o setor terá pela frente. É uma discussão bastante técnica e espero que seja objetiva. Precisamos tomar uma decisão, como país, se vamos depender da água – porque essa crise não é passageira – e de combustíveis fósseis. Na minha opinião essa seria uma decisão ruim. Temos uma bela alternativa para isso, que já teria evitado esse cenário, que é o desenvolvimento da tecnologia limpa, do armazenamento, diz Gomes.

O pipeline atual

A companhia, que iniciou suas atividades em abril de 2015, atualmente opera em 14 estados brasileiros e deve ampliar para 17 estados nos próximos anos. São 85 micro ou miniusinas, sendo 26 já concluídas e 32 em construção e as demais em diferentes estágios de desenvolvimentos ou de licenciamento, nas áreas de concessão de 20 distribuidoras de energia. O crescimento expressivo nos últimos seis anos é atribuído ao time de 60 funcionários. “Temos os melhores. Cuidamos bem deles e eles dão a resposta”, comenta Gomes.

Todos esses projetos, já com contratos assinados, devem estar operando até a metade de 2022 e estão contemplados no período de transição previsto na PL 5.289/2019, que está em análise no Senado após ser aprovado com a grande maioria dos votos na Câmara, o que garante que estarão sob as regras atuais de compensação de créditos, consideradas mais vantajosas para os consumidores. “É um dos méritos do PL, dar garantias para os sistemas que já estão em operação e uma previsibilidade através do período de transição”, comenta Gomes.