Com serviço de inteligência remota, PV Operation deve chegar a 500 MW operados em 2022

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Com mais de 250 MW em operação em 2 mil e 500 usinas, a PV Operation espera ultrapassar os 500 MW de capacidade operada remotamente para seus parceiros até o final de 2022. A empresa de engenharia oferta a operação remota para empresas integradoras e investidoras de geração distribuída no modelo SaaS (Software as a service).  

“Grande diferença para outros SCADAs conhecidos no mercado é que a gente não cobra um investimento inicial. É um SaaS e a gente cobra mensalmente. Enquanto um convencional vai cobrar aí de R$ 60 mil a R$ 400 mil, dependendo do tamanho da usina e das variáveis, a gente cobra por potência, mensalmente. É interessante porque a usina gera energia e paga os custos dela com a própria operação. Tira do capex e coloca no opex as contas”, diz o CEO Siqueira Neto. Ele conta que a empresa cresceu 10 vezes de 2020 para 2021 e espera repetir o ritmo neste ano.  

A PV Operation surgiu como um sistema de Controle supervisão e aquisição de dados (SCADA, na sigla em inglês para Supervisory control and data acquisition) –  desenvolvido dentro da integradora de sistemas Elektsolar há cinco anos, liderada por sócios programadores e desenvolvedores. Atualmente as empresas mantêm operações independentes e as usinas da Elekstsolar correspondem a menos de 5% da capacidade operada pela PV Operation.  

Mensalidades e licenciamento 

Além da assinatura do serviço, em que uma equipe própria da PV Operation monitora as variáveis da operação da usina, indicando a necessidade de manutenção e gerando diversos tipos de análises e relatórios, a companhia passou a oferecer também o licenciamento do software. Nesta modalidade, mais comum, a tecnologia é licenciada para o cliente, que com seus operadores assume o controle.

Como operadora, na modalidade pro assinatura, a PV Operation oferece um “Service Level Agreement” (SLA, na sigla em inglês para “Acordo de Nível de Serviço”, ou tempo de resposta) de duas horas. Neste caso, ela opera e faz atendimento remoto da equipe de manutenção do integrador.  

Em ambas as modalidades, a manutenção, que envolve o deslocamento de técnicos e a logística, fica com os integradores. “Somos o cérebro, vamos mostrar para o integrador qual usina que precisa desse foco de atenção, é o serviço de inteligência para o integrador. Identificamos performance abaixo do prognóstico, um performance ratio abaixo dos 75%, 80% – o que foi estabelecido. A gente dá esses alertas e alarmes para o integrador ou investidor e orientamos a equipe de campo em um momento de intervenção, com a precisão de sabe qual é o inversor, o equipamento que deu problema e o que precisa ser observado. É uma engenharia remota também do passo a passo de identificação do problema in loco”, detalha Siqueira Neto.  

O licenciamento é cobrado mensalmente, por usina, independente da potência instalada, atualmente no valor de R$ 6. Na operação remota, que inclui serviço de engenharia próprio, responsabilidade de SLA, o valor do serviço varia de acordo com a potência – quanto mais alta, mais cara é a mensalidade.  

Uma usina de 1 MW, paga torno de R$ 800 por mês pelo serviço de operação, mas isso varia de acordo com a solução. Pode haver ainda taxa de implantação de R$ 3 mil, dependendo da infraestrutura da planta. Uma usina de 10 kWp, pagaria uma mensalidade R$ 8.  

“Muitos já têm equipes de operação por obrigação contratual com os investidores. As geradoras de GD, que são locadoras de equipamentos, precisam ter uma equipe de O&M, é o core business. O investidor não quer olhar e achar que está nas mãos de terceiros. Aí optam pela opção mais barata, mas fazem o investimento nessa equipe”, aponta o executivo. 

Hardware próprio 

Além do SaaS, a PV Operation também atua com a venda de hardware próprio, com data logger que é conectado aos inversores, multimedidores, relés de proteção, estação solarimétrica, trackers, coleta dados de todos esses dispositivos de comando e controle, aglutina e manda para a nuvem.

“Ou seja, a nossa topologia, a nossa arquitetura de comunicação dispensa uma sala de O&M, uma edificação comum de uma usina que tenha um servidor próprio, físico. Isso pode ser uma economia grande para o cliente, quando entramos ainda no projeto, porque a gente faz tudo via nuvem. Além de não onerar no capex, sem necessidade de pagar pelo software à vista, tem uma economia em termos de infraestrutura física que seria necessária para operar com um SCADA convencional”, pontua Siqueira Neto.  

Além disso, o hardware próprio da PV Operation permite que alguns controles e comandos sejam executados remotamente, inclusive ligar e desligar inversores, definir parâmetros de medição e de controle da planta.  

Mas esse nível de controle não é possível apenas para usinas que estão em fase de projeto, pode ser alcançado também para sistemas em operação. “Um grande trunfo é que a gente tem uma expertise muito grande em aquisição de dados e estruturação de rede, podemos chegar numa planta já funcionando e dar uma solução de comunicação. Infelizmente muitas plantas não tem sistemas de comunicação ativos e funcionando com qualidade. É alarmante o número de usinas no Brasil que não têm, ou que funcionou por um tempo mas depois parou. É um dos principais problemas das usinas de GD no país”, alerta.  

Escritório da PV Operation, em Florianópolis (SC)Principais fatores de perdas 

A falta de monitoramento através de um sistema de comunicação bem estruturado é um problema sério para o um segmento que busca taxas de disponibilidade altas, muitas vezes acima de 99%, excluindo problemas na rede elétrica, e outros motivos não imputáveis ao responsável pelo O&M, comenta Siqueira Neto. “Os integradores mais experientes já têm spare parts para otimizar. São usinas que geram o equivalente a R$ 15 mil, R$ 30 mil por dia”, pontua.  

Ele considera que são três principais fases que podem impactar nessa geração de receita: a modelagem do projeto, a instalação e a operação.  

“(Quando há algum problema) o integrador é negligente no que diz para o cliente, faz um cálculo no Excel, é negligente na perícia dessa medição. O segundo erro é na instalação. O terceiro erro é na qualidade da operação. Às vezes o sistema foi bem instalado, os números estão coerentes. Mas acontece de um equipamento dar problema e não ter uma equipe que estava em cima. Aí passam 15 dias até que se perceba que aconteça alguma coisa”, comenta Siqueira Neto. 

Há ainda um quarto fator que pode afetar o rendimento das usinas e pode ser identificado pela operação remota: o faturamento pela concessionária de distribuição de energia. A PV Operation oferta dentro do licenciamento ou operação remota por assinatura o módulo relatório de contabilização de energia (RCE), que cruza os dados de geração com os dados da conta de luz e analisa se o que foi injetado foi corretamente contabilizado. O RCE também identifica se as UCs beneficiárias receberam o que deveriam de créditos, proporcionalmente à energia injetada pelo sistema de geração distribuída na rede.

Acontece muito erro da concessionária, muito. As concessionárias estão melhorando, mas o processo do lado delas ainda é muito manual, muito arcaico, é algo que precisa ficar em cima, cuidar. Às vezes aquelas três fases foram bem feitas – estimativa, instalação, operação – mas aí a concessionaria some com créditos acumulados de um mês para o outro”, relata o executivo da PV Operation.  

A relação com as distribuidoras é, aliás, um dos principais problemas na operação da geração distribuída, avalia Siqueira Neto. De acordo com a experiência da PV Operation, frequentemente as concessionárias não cumprem os padrões mínimos de qualidade, principalmente em áreas localizadas nos finais de rede.

“Uma geração distribuída em final de rede, com um vizinho que tenha por exemplo um motor de partida, ou uma máquina que ao ser acionada cria uma alteração na rede, se a rede não está preparada para isso, pode ser afetada. O inversor pode se proteger, se desligar. A gente já pegou alguns casos em que o usuário estava tendo metade da geração programada, porque o inversor estava desligando várias vezes ao longo do dia. Inclusive o integrador entrou na Aneel com relatório da PV Operation e teve ganho de caso para obrigar a concessionária a fazer a melhoria da rede”, relata.  

Outro problema frequente é o funcionamento dos seguidores, ou trackers, que reposicionam os módulos fotovoltaicos para melhor aproveitar o recurso solar. “Se, por exemplo, o tracker perde energia, para de seguir o mesmo padrão de rotação dos outros, isso pode gerar uma corrente reversa, dependendo da quantidade de MPPTs que tem naquele inversor, pode queimar fusível, gerar perdas por mismatch. A gente também tem esse monitoramento em tempo real dos trackers que pode identificar isso a tempo de corrigir, desligar um inversor remotamente”, pontua.  

A operação remota ainda costuma identificar início de arco elétrico, aquecimento de equipamentos como conectores, que pode iniciar um incêndio. “Acontece muito de inversor ficar exposto ao sol. Na chuva até pode, mas no sol, não aguenta. São coisas que o integrador, o cliente às vezes nem imaginava, a gente vê isso e sugere essas melhorias dos clientes”, comenta Siqueira Neto.  

Geração centralizada e white label

A modalidade de licenciamento do software foi criada como resposta a uma demanda recebida de clientes que, muitas vezes pelo próprio modelo de negócios ou exigências de investidores, preferem manter a própria operação dos sistemas, com uma equipe interna dedicada, mas ainda representa uma pequena parte dos contratos da PV Operation.  

A companhia também já foi convidada a atuar na geração centralizada, de acordo com Siqueira Neto, mas este não é o foco no momento. “Parceiros que atuam em GC e conhecem o nosso SCADA sugerem a entrada. Mas como o mercado de GD é muito grande, e por uma questão de foco, estamos concentrando em GD”, conta o CEO da empresa.  

Outro nicho que a companhia pode atender a depender da demanda é o white label do software, em que um parceiro da PV Operation oferece o serviço de operação remota para seus clientes usando a própria marca.  A fabricante de equipamentos brasileira WEG recentemente fechou um acordo deste tipo com a companhia. 

“Há uma duplicação de bancos de dados, é nossa tecnologia, mas totalmente personalizada para o cliente. Um negócio que pode ser retomado no futuro. Só tivemos dois casos até hoje. Como o volume de clientes (trazido via parceiros) é grande, a gente segura para atender e absorver, mas podemos fazer isso novamente no futuro para outras distribuidoras de equipamentos ou integradores”, comenta Siqueira Neto.