Alemanha procura fortalecer alianças estratégicas com a América Latina e o Brasil diante da transição energética

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A Fundação alemã Konrad Adenauer Stiftung (KAS) e o Instituto de Estudos em Sustentabilidade Avançados em Potsdam (IASS Postdam) publicaram um estudo titulado «A Alemanha-América Latina: Construir parcerias estratégicas para una transição energética global» (original em Inglês aqui).

Segundo o relatório, a América Latina é estrategicamente importante para as políticas internacionais de energia sustentável da Alemanha. As tecnologias energéticas sustentáveis ​​não apenas têm um grande mercado potencial na América Latina, mas também oferecem oportunidades para abordar alguns dos problemas prementes da região. Além disso, a América Latina oferece oportunidades interessantes de aprendizado.

O relatório analisa as principais tendências da política energética e os laços bilaterais com três países latino-americanos que são particularmente relevantes para os esforços alemães para construir alianças para uma transição energética global: Brasil, México e Argentina. Enquanto a Alemanha estabeleceu parcerias bilaterais energéticas com Brasil e México, Argentina assumiu a presidência do G20 da Alemanha em 2018 e, portanto, desempenha um papel central na definição da agenda global de energia.

O documento contém as seguintes recomendações:

-Ajustar a comunicação da “Energiewende” aos contextos nacionais dos países parceiros, abandonando o termo «transição energética», se for inadequado. É importante reconhecer que em países como o Brasil, o fornecimento de eletricidade tem sido tradicionalmente baseado em energias renováveis. Nesse contexto, a «transição energética» é um termo equivocado, uma vez que o desafio não é transformar um sistema elétrico tradicionalmente baseado em fontes convencionais de energia, como ocorre na Alemanha. Pelo contrário, nesses países, é importante evitar o aumento da participação dos combustíveis fósseis durante os esforços para expandir e diversificar o fornecimento de eletricidade. Especialmente em cooperação com o Brasil (um país com uma porcentagem muito elevada de energias renováveis ​​no seu fornecimento de eletricidade e pioneira na substituição de combustíveis fósseis no sector dos transportes), é importante reconhecer explicitamente que a Alemanha não é o único candidato nos esforços globais em promover energias renováveis.

-Mobilizar os benefícios socioeconômicos das energias renováveis ​​para promover uma narrativa orientada para oportunidades em políticas climáticas. Na maioria dos países do mundo, as preocupações com o clima não é o principal motor da expansão das energias renováveis. Particularmente, em países com alta radiação solar e ventos fortes (como no México, por exemplo), os custos de energia eólica e solar são muito baixos, resultando em uma grande oportunidade de negócio para essas tecnologias de energia renovável. Além disso, a implementação de energias renováveis ​​pode implicar importantes benefícios sociais, como a melhoria da qualidade do ar. Portanto, a mobilização dos benefícios socioeconômicos da energia renovável pode desempenhar um papel importante na promoção de oportunidades orientadas na narrativa política climática e, assim, ajudar a elevar as ambições de mitigação, tanto internamente como globalmente.

– Aproveitar a experiência dos países parceiros para a cooperação internacional no campo da energia sustentável. A Argentina, o Brasil e o México adquiriram uma experiência significativa na transformação do setor energético, que deve ser usado em todo o mundo. A cooperação sino-mexicana para reduzir os subsídios aos combustíveis fósseis no contexto do G20 foi um passo muito importante nesse sentido. Tanto o México quanto a Argentina reduziram substancialmente seus subsídios aos combustíveis fósseis. Suas lições aprendidas, tanto positivas como negativas, podem ser de importância estratégica para outras economias emergentes que aspiram a abordar essa barreira central para um suprimento de energia sustentável. O Brasil, por outro lado, foi um dos primeiros países do mundo a implementar leilões de energia renovável. Suas lições podem fornecer informações importantes, não apenas para o desenho de leilões alemães, mas também para o intercâmbio global de conhecimento em fóruns internacionais como o G20, IRENA e AIE.

O relatório foi publicado no contexto do evento paralelo conjunto KAS e IASS para o 4º Diálogo de Transição de Energia em Berlim sobre o mesmo assunto.