Rumo a uma fabricação solar 100% brasileira

Share

A Sengi Solar, fabricante brasileira de módulos fotovoltaicos, anunciou no início de setembro um investimento de R$ 440 milhões para a criação de duas fábricas de painéis solares no país.  A empresa conversou com a pv magazine sobre os incentivos que levaram à decisão, futuros desenvolvimentos tecnológicos, e o seu rumo em direção a uma fabricação solar 100% brasileira.

As duas fábricas terão capacidade anual de produção da ordem de 1 GW de módulos, com a primeira unidade, localizada em Cascavel (Paraná), já em operação, e a segunda, em Ipojuca (Pernambuco), prevista para começar operações no primeiro semestre de 2023.  A Sengi disse à pv magazine em primeira mão que planeja abrir uma terceira fábrica em 2024, totalizando 1,5 GW de produção de equipamentos.

De momento as fábricas concentram-se na montagem de módulos, com células importadas da China. “Quando a gente atingir a terceira fábrica, em 2024, nós acreditamos que a partir desse momento a gente consiga viabilizar uma fábrica de células no Brasil, por conta do volume de outros fabricantes de módulo, e do nosso 1,5 GW. Nos já entramos no processo de viabilidade, incluindo estudos sobre o impacto ambiental de trazer uma fábrica de células para o Brasil,” disse Everton Fardin, diretor de operações e engenharia da Sengi.

A empresa quer “autonomia a 100%” nessa potencial fábrica de células, apontado o minério de quartzo para a obtenção de silício metalúrgico em estados como Minas Gerais como uma possibilidade de, eventualmente, deixar de adquirir wafers da China. “Quem sabe, a gente em 10 anos está com toda a cadeia, desde o quartzo, silício metalúrgico, silício solar, lingotes, wafers e células aqui no Brasil,” disse Murilo Bonetto, gerente de pesquisa e desenvolvimento (P&D) na Sengi.

“O que a gente está a ver é um processo de reindustrialização no Brasil, cíclico, em que a gente investe em fábricas do módulo fotovoltaico, isso aumenta o volume, viabiliza também fábricas de matérias primas, que viabilizam mais volume para as fábricas de módulos,” continuou.

A par com os seus planos para uma fabricação solar 100% brasileira, a empresa também está a investir amplamente em P&D. “A gente estima investir R$ 70 milhões em P&D em 2023, e isso vai nos possibilitar o desenvolvimento de um polo tecnológico onde uma das principais áreas de pesquisa será na tropicalização do módulo,” Bonetto anunciou. Este processo envolve a optimização do módulo para funcionamento num clima tropical como o do Brasil, com alta irradiância solar, temperatura e umidade.

Tecnologia TOPCon n-type e HTJ

Também devido ao seu favorável comportamento em altas temperaturas, a Sengi está desenvolvendo módulos com células TOPCon n-type produzidas pela Jolywood e Tongwei, apontado janeiro de 2023 como o objetivo para ultrapassar a barreira dos 700 MW e entrar no mercado com módulos de alta potência.

A fábrica em Cascavel está produzindo módulos PERC bifaciais e double glass de potência entre 440 W e 670 W. A empresa vê a tecnologia TOPCon como uma tecnologia de transição entre PERC e heterojunção (HTJ). “Estudando a cadeia de suprimento de células, a gente encontra que a TOPCon vai ser o próximo passo depois da PERC porque o investimento que as fábricas de células terão de fazer é muito menor do que para a HTJ. A gente estuda a HTJ, mas está apostando na TOPCon n-tipo para os próximos módulos,” disse Bonetto.

PADIS

A inclusão dos restantes insumos para a fabricação fotovoltaica no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (PADIS) em janeiro deste ano foi a principal razão pela qual a Sengi decidiu criar as fábricas de produção de módulos nacionais nesse momento.  Este incentivo governamental ajuda a nivelar o preço do módulo nacional com o módulo importado, apesar do nacional ainda ser 15 a 20% mais caro, de acordo com a Sengi.

A convergência internacional nos tamanhos 182 mm e 210 mm de wafers foi outra das razões que deu confiança à empresa para investir agora nos designs e equipamentos necessários para as fábricas. O primeiro módulo foi produzido na fábrica apenas nove meses depois da Sengi ser criada. Quando ambas as fabricas estiverem a trabalhar a capacidade máxima, deverão empregar 300 a 350 empregados cada, de acordo com a empresa. “Todo o desenvolvimento de produto e processo do projeto foram feitos por Brasileiros,” disse Fardin.

Os módulos fotovoltaicos produzidos nas novas fábricas serão enquadrados no sistema do Finame, já que apresenta uma linha de crédito mais atrativa pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e que viabiliza os projetos de geração própria de energia em telhados e pequenos terrenos no território nacional.