Brasil pode instalar 9 GW de energia solar distribuída nos próximos dois anos

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“Com os problemas financeiros das empresas concorrentes, a Aldo tornou-se a primeira empresa neste segmento este ano”, afirmou o presidente da Aldo, Aldo Pereira Teixeira, numa entrevista rápida com a pv magazine. “Atualmente, nossa participação de mercado é de cerca de 35 a 36 por cento.”

A Aldo concentra-se atualmente na venda de sistemas fotovoltaicos residenciais, comerciais e industriais e apenas 3 por cento do faturamento da empresa se concentra em projetos com potência superior a 1 MW, nos quais o autoconsumo remoto é uma prioridade.

Segundo ele, a situação da geração distribuída no Brasil ainda é muito promissora e o Brasil é um país totalmente emergente que está iniciando seu processo nesse segmento. “O Brasil tem 89 milhões de unidades consumidoras e apenas 330 mil sistemas fotovoltaicos conectados à rede; temos um espaço enorme para crescer ainda mais no Brasil”, Pereira Teixeira acrescentou.

A crise da Covid-19, segundo ele, determinou uma queda acentuada do mercado apenas nos meses de abril e maio. O mercado, porém, já se recuperou, atingindo os mesmos números do ano passado. “E no quarto trimestre os números são bem maiores que no ano passado”, afirmou. “O volume de negócios do grupo Aldo vai crescer 50% neste ano.”

O setor de energia solar em geração distribuída, segundo Pereira Teixeira, deve experimentar um crescimento de 50% em relação ao ano passado. A previsão é que até o final deste ano, o mercado atinja 4,5 GW de potência instalada com 360 mil unidades consumidoras, sendo 180 mil novas unidades adicionadas apenas este ano. Para 2021 o crescimento estimado deve ser de no mínimo mais 4 GW e 360 mil novas unidades consumidoras. E para 2022, estimamos será mais 5GW de potência instalada e outras 400 mil novas unidades consumidoras.

As recentes mudanças regulatórias introduzidas pelo governo brasileiro, em sua opinião, afetaram o mercado principalmente do ponto de vista dos preços dos sistemas fotovoltaicos, que caíram 40%. “Mas os preços dos painéis também caíram na China e globalmente”, acrescentou. “E felizmente o Brasil decidiu eliminar o imposto de importação sobre os painéis, que permitiu manter um bom breakeven no investimento de 40 ou 45 meses.”

Até o momento, os chamados ex-tarifários, que reduziram a alíquota de importação de painéis em 12%, não tiveram impacto em termos de faturamento e aumento nas vendas. Isso porque o governo limitou o valor CIF desses equipamentos em Reais e a variação cambial, com o dólar nas taxas mais altas já vistas, tornou o limite de valor inviável para o uso do ex-tarifário. “Já no caso dos inversores, a redução da alíquota foi de 14% e essa redução teve impacto positivo sobre o preço final porque os valores não estavam atrelados ao CIF,” disse ele. “Em teoria, com o dólar na casa dos 5,10 na cotação atual, hoje já seria possível o enquadramento dos ex-tarifários também para os painéis.”

No momento, o que está pesando no valor final é o custo do frete internacional, que tem impacto direto no CIF. Ou seja, o dólar favorável, mas o frete é o que atrapalha a redução dos valores. “A previsão para crescimento comercial da venda de painéis fazendo uso da redução de alíquota dos ex-tarifários deverá acontecer no segundo trimestre de 2021, quando há previsão de normalidade do custo de fretes marítimos internacionais,” acrescentou.

A ação do governo, segundo Pereira Teixeira, foi adequada não só para resolver o problema do imposto de importação, mas também para responder à questão do câmbio desfavorável, que está afetando toda a economia brasileira. “O governo poderia rapidamente viabilizar a aprovação de um projeto de lei que funcionasse como um marco legal da geração distribuída no Brasil, trazendo ainda mais jurisprudência e, consequentemente, maior crescimento ao setor,” disse também.

Sublinhando as dificuldades do segmento residencial no que diz respeito aos segmentos comerciais e industriais no Brasil, o CEO da Aldo disse que o principal problema continua sendo a disseminação de informações sobre a tecnologia. “Uma maior educação permitiria a muitos proprietários saber que podem cuidar de seus gastos e ao mesmo tempo do meio ambiente, permitindo que mais água fique nas barragens e reduzindo a poluição,” disse também.

Quanto ao financiamento dos projetos, historicamente o Brasil nunca teve uma taxa de juros tão baixa, com a taxa Selic de 2,0% ao ano. “Trata-se da menor taxa das últimas décadas,” comentou. “Com juros mais baixos como os praticados neste momento, o sistema financeiro brasileiro favorece que os financiamentos fiquem mais acessíveis para os projetos residenciais e comerciais”. Dessa forma, segundo ele, as condições são muito vantajosas e garantem ainda mais desenvolvimento para o setor. “Hoje, na Aldo Solar, 45% de todas as vendas são feitas por meio de financiamentos junto ao sistema financeiro,” acrescentou.

Questionado se o Brasil pode se tornar um país fabricante de componentes fotovoltaicos, Pereira Teixeira disse que o país não tem indústria de semicondutores e, portanto, a fabricação de painéis não faria muito sentido. “Os mesmos fabricantes que já existem no Brasil têm que importar todos os insumos da Ásia”, afirmou. “Nesse sentido, podemos nos tornar mais montadores de produtos do que verdadeiros produtores.” Por esse motivo, os produtos fotovoltaicos brasileiros, incluindo inversores, podem ser 30% mais caros do que os importados da China.

Sobre os níveis de qualidade do mercado fotovoltaico brasileiro, Teixeira Pereira disse que essa questão é prioritária para o negócio de geração distribuída, onde não há contratos com o estado ou licitações de qualquer natureza. “Os principais fornecedores da Aldo são JinkoSolar, Trina, SMA, Fronius, Fimer, Growatt, e também BYD, que sabemos que tem uma fábrica de painéis aqui em São Paulo e vende também baterias,” disse. “Sempre selecionamos qualidade e valor, para fazer projetos que tenham de durar entre 25 e 30 anos.”

De acordo com suas estimativas, o mercado brasileiro em breve terá uma participação majoritária de 70 por cento dos painéis PERC monocristalinos, enquanto os produtos policristalinos cairão ainda mais para ter uma participação de 30 por cento.

A Aldo está lançando nestas semanas os novos módulos de alta potência de grandes fabricantes chineses como Jinko e Trina, embora em versões de tamanho reduzido, de potência de cerca de 440 W, que podem ser utilizados em projetos de telhados. “Esses módulos são um pouco mais caros que os painéis convencionais, mas permitem um custo de instalação final menor.”

Sem dúvida, segundo ele, esses painéis serão os mais vendidos no Brasil a partir do primeiro trimestre de 2021 e devem apresentar 80% de share. Isso porque são painéis feitos exclusivamente para geração distribuída e atendem a grande maioria dos projetos de telhado no Brasil. “Esses painéis têm um excelente custo-benefício, maior eficiência, são mais leves e com vida útil mais longa e já se enquadram na tendência da tecnologia de células de 182 mm e 210 mm,” disse ele.

Sobre a possibilidade de expandir os negócios da empresa no exterior, Pereira Teixeira disse que vai demorar pelo menos 10 anos para o mercado brasileiro ficar saturado. “E até lá queremos continuar crescendo e manter nossa liderança aqui,” comentou. “O Brasil ainda está dando seus primeiros passos na energia solar.”